domingo, setembro 18, 2011

Dom Casmurro

Isso é apenas um relato pessoal da minha leitura de Dom Casmurro. Vestibulandos, corram daqui, ou leiam até o fim, porque ler não dói.

Quem me conhece pessoalmente e já trocou ideias sobre literatura comigo, sabe que o grande Machado de Assis nunca foi meu ídolo. Pelo contrário, vejo sua obra como supervalorizada ao extremo, um extremismo escolar que em vez de levar o leitor à reflexão atua de modo mais emburrecedor do crítico, propriamente dito, e é sempre necessário pensar e repensar nossa tradição.

Dom Casmurro é tido talvez por grande parte dos leitores como obra máxima de Machado de Assis, quando não da literatura brasileira. A história de amor que se desenrola desde a infância até a idade adulta com uma concretização (leia-se casamento) sem maiores percalços é marcada pela "grande" dúvida: se Capitu traiu ou não traiu Bentinho.

Creio que minha tendência a apreciar mais o que tende ao épico do que a introspecção tenha coberto as páginas de Dom Casmurro com algum tipo de véu, que possa ter-me impedido de ver a beleza de todo o conjunto. É claro que é uma obra bem escrita, com frases que poderiam ser retiradas com certa violência do contexto do livro para se tornarem aforismos ou coisa parecida (algo que infelizmente acontece).

Mas não sei... creio não ser tão burro para não ter entendido a obra, mas, pelo menos para mim, Machado é melhor contista do que romancista. Seus textos longos frequentemente tornam-se apenas enfadonhos. Não li toda sua obra, nem sou especialista no autor, mas foi a exata impressão que tive ao ler Quincas Borba. Salvo alguns lances de pura genialidade em sua - sei lá porque chamam assim - trilogia realista, que inclui Memórias Póstumas, ele não se dá bem com textos mais longos. Daí talvez os capítulos curtos, sem lá muito fôlego para mais.

O que porém a "crítica escolar" valoriza no autor, além de seu estilo elegante e impecável, é o modo como ele traça o perfil das personagens, com suas sutilezas e profundidade psicológica. Tendo isso em vista, é uma grande falha dessa crítica não notar que a obra em questão é apenas uma análise de personalidade, não a história de uma relação entre um menino e uma menina que crescem e acabam se casando. Para mim parece tão óbvio que o livro não é nada além do que sobre a própria personagem Bentinho - o próprio nome do livro já diz isso! Esqueçamos os "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" da garotinha, ou os trejeitos adquiridos por Ezequiel, que lembravam o amigo morto. O mundo é filtrado pelos olhos envelhecidos - e que àquela altura já o viam de maneira um tanto acinzentada - do narrador.

Em minha modesta opinião, o tema do livro é o remorso de Bentinho. Ele é um documento escrito para tentar justificar os erros do passado e do presente. O narrador é o grande traidor, pois foi ele quem deu as costas para sua amada e, depois de sua morte, ainda assume alguns casos passageiros, damas que o visitavam... Talvez seja o remorso misturado à ideia de ter sido desonrado que o leve a pensar no suicídio. Bentinho é egoísta e possui um lado mau, que quase o leva a envenenar o filho.

Enfim, a questão de se duvidar do narrador já foi colocada por outros críticos com muito mais experiência e respaldo do que eu, mas não sei se esse tema do remorso já foi levantado, ou algo nesses termos.

Agora, pergunta-me o leitor se eu recomendo a leitura? Sim. Leitura obrigatória para qualquer estudante de letras ou mesmo para qualquer brasileiro. É necessário conhecer sua cultura e sua literatura. Fora isso, é um livro que pode se ler rápido, não é tão cansativo mas... convenhamos, é apenas um drama doméstico de alguém insignificante e que não faz muito mais do que falar sobre si mesmo. Para mim não é a obra máxima de nossa literatura, nem o lado que mais me interessa de Machado de Assis.

OBS: Antes das críticas, isso é apenas uma opinião pessoal, não um trabalho acadêmico... opinião, cada um tem a sua, ok?

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