terça-feira, julho 27, 2010

Clowns


Hoje cedo me deparei com uma coisa um tanto engraçada. Sério: o que fazia uma foto do Ozzy Osbourne na primeira página de um jornal de interior? A matéria falava sobre o lançamento de seu livro no Brasil, intitulado Eu sou Ozzy e publicado pela editora Benvira.

Muitas histórias cercam a figura de John Michael Osbourne. Da infância difícil às mordidas em morcegos, passando pela criação do heavy metal, a parceria com outros grandes artistas, até o reality show exibido na MTV, a transformação de John em Ozzy foi também um salto da vida comum para o plano da lenda... Mas o quanto terá custado tudo isso? Não seria essa vida uma tragédia casual, com um possível - apesar de improvável - final de conto de fadas, com o reconhecimento do herói culminando em um salto definitivo para o plano do mito?

Apesar do som pesado e da atmosfera sombria, o "Príncipe das Trevas" sempre se considerou um palhaço. Seu trabalho não era outro que não divertir as pessoas. E não se enganem os que consideram isso uma banalidade. A alegria é coisa rara. E séria.

Sem comparações em termos de estilo musical, talvez haja nas terras de cá uma figura semelhante. Do início dOs Mutantes até o seu maior reconhecimento, testificado pelo recente filme Loki, Arnaldo Baptista mostra uma capacidade de trabalho com diversos motivos, que surpreende ao mesclar a dor mais profunda com um toque de humor. A primeira faixa do disco Loki é uma prova disso. Passando pelo reconhecimento das causas de sua própria dor (Venho me apegando ao passado \ em ter você ao meu lado\ Não gosto do Alice Cooper\ Onde é que está meu Rock 'n' Roll?), e revelando-as sem o medo do ridículo. "Eu não estou nem aí pra morte, não estou nem aí pra sorte, eu quero mais é decolar toda manhã".

Arnaldo Baptista é, provavelmente, mais "malandro velho" do que "loki", ou o Loki mitológico, mas não deixa de assustar quando mostra uma verdade, um sentimento, escancarando-os e colocando-os próximo demais de nosso rosto, e colocando a orquestra do circo para encerrar a conversa. Essa é uma amostra da sensibilidade insuportável; o sentir o pulso de todos os tempos e, diante disso, compreender-se humano.

Para encerrar minha lista de clowns, trago uma figura talvez inesperada. Sua verdadeira história de vida já se encontra em um plano de semi-lenda, transcrita por vários e vários biógrafos (ou diria romancistas?). Mas o fato é que alguma operação mágica ocorreu quando Ronald passou a ser reconhecido como J. R. R. Tolkien.

Ser picado por uma aranha na infância, a participação na I Guerra Mundial, o intenso estudo de línguas estranhas como o islandês e o anglo-saxão, a morte de amigos próximos; a vida com um único amor, imortalizado na figura de Lúthien; a convivência com os não menos lendários C. S. Lewis, Charles Williams e Owen Barfield; a devoção ao catolicismo, o amor ao seu país; tudo isso são tentativas de entender, e talvez mitificar, o homem que escreveu a obra literária de maior repercussão no século XX, O Senhor dos Anéis. O mais estranho e perturbador no caso de J. R. R. Tolkien é que ele próprio era um criador de mitos.

Um dos elementos que mais impressionam em sua obra é a capacidade de misturar o cômico e o trágico, sem, contudo, lançar-se à ironia niilista, algo muito mais em moda no seu tempo. Por causa disso, Tolkien sempre correu o risco de ser afastado do mundo adulto. Os velhos não admitem humor.

Dessas três figuras, o que mais chama a atenção é a consciência de seu papel de artista como veículo de uma alegria que talvez nem eles mesmos sentissem. A comparação óbvia e quase clichê é a figura do palhaço triste. Mas existe a arte de dominar a própria tristeza e convertê-la em algo maior. Mas algo que não é só para si, para tornar a vida suportável. É a arte de transformar a própria dor na alegria do outro; sem exigir piedade. Sem morrer no escárnio e na ironia. Sem deixar aquele gosto amargo. É um impulso constante de reconstrução sobre os escombros... não me espanta que não envelheçam.

2 comentários:

Daniela Dias Ortega disse...

Quando dei uma olhada no texto pensei que diabos o que tem a ver esses 3? Ozzy e Arnaldo tudo bem, vamos ver o que é... mas TOLKIEN junto?
QUE?

haehueahue acho que essa impressão foi bem proposital.

Mitos... é... interessante porque uma vez eu tava conversando com um amigo fã de Tolkien e ele tava falando que o professor é um mito... mas, aí eu disse pra ele que o professor tava mais pra ser filosófico porque é coerente e lógica a magnitude de sua obra, mas ao mesmo tempo pode ser questionável; mas depois fiquei em dúvida se o que era mito era Tolkien ou sua própria obra, sendo uma narrativa poética, irracional pro nosso mundo, mas lúcida pro seu próprio mundo; é uma junção de ideias e viraram uma hitória...

Mas tá, essa discussão não adiantou muita coisa, porque o "mito" nesse caso, quando falamos de pessoas e tudo mais, não precisa de tanta definição, meio que sabemos o que é, e não é bem assim.

Acho que não deu pra entender muita coisa, mas tudo bem.

"não me espanta que não envelheçam."
wau.

Anônimo disse...

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