quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Essa tal liberdade... - desdobramentos da mídia e do jornal

O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade
Se estou na solidão pensando em você
Eu nunca imaginei sentir tanta saudade
Meu coração não sabe como te esquecer


Eu andei errado, eu pisei na bola
Troquei quem mais amava por uma ilusão
Mas a gente aprende, a vida é uma escola
Não é assim que acaba uma grande paixão

(Só pra contrariar)

Já digo de antemão que estou bem ciente do quanto esse artigo possa ser desmerecido, seja pela minha pouca idade e experiência ou mesmo pela escolha dos versos introdutórios. Porém, às vezes fico impressionado com a capacidade de nossa cabeça em organizar ideias, opiniões e objetos de modo que surja um resultado quase poético.

Desde que eu comecei a tomar consciência de como se editam jornais e transmitem notícias, seja por meio impresso ou pela televisão, tenho sido incomodado pela minha própria opinião negativa a respeito da mídia. Para começar, perturba-me a falta de prioridade dos noticiários. Em todos há um espaço diário dedicado ao esporte – leia-se futebol; em nenhum há um espaço diário dedicado à educação, cultura, novas ideias etc. Em geral, transita-se pelos assuntos policiais, alguns temas políticos (supomos que muita coisa ainda fique por baixo dos panos), catástrofes provocadas pela natureza ou pelo homem e o tal do futebol. Algumas emissoras passam de um assunto para o outro na maior velocidade possível, para que o espectador não tenha tempo de refletir sobre o que acabou de ver e ouvir; outras, aquelas que produzem um “jornalismo crítico”, limitam-se a comentários do tipo “Isso é uma vergonha!” ou jogam logo um respeitável senhor de cabelos brancos que falará indignado contra todas as falcatruas do país, dando “voz” aos sentimentos de toda a nação, em outras palavras reafirmando o senso comum. Estabelecido o ritual, ele é repetido dias e dias a fio, como se fosse uma missa, variando apenas o conteúdo da homilia.

Esses são exemplos apenas dos jornais televisivos, mais acessíveis à população.

Tomado por essa opinião tão negativa, foi quase inevitável que me surgisse a ideia de fazer algo a respeito. Mas, é claro que isso não é tarefa fácil, pois nossa liberdade não inclui um acesso ao discurso de fato. Então, diante da indignação de mãos atadas, é óbvio que a pequenez do espírito humano nos conduz à maldizer aqueles que poderiam fazer algo mais interessante e não fazem...

Desviando um pouco o foco, recentemente o governo federal tem sido alvo de algumas polêmicas que giram em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Os ataques vêm de todo o lado e de toda a forma, que muitas vezes impressionam pelo cinismo e até por certa má vontade. Um exemplo é José Casado, que, em texto publicado no site do jornal O Globo, diz que o texto é árido e extremamente tortuoso – algo que tira a vontade de qualquer ser humano de se informar sobre o assunto. Em outros casos, dá-se logo um grito exaltado: “O Governo quer voltar com a censura!” Paulo Renato em seu blog já falava de uma “escalada do autoritarismo”, que colocaria em risco a democracia representativa em favor de uma “democracia direta”, modelo que, segundo ele, teria sido usado para legitimar a Revolução Cubana. Isso para não falar de uma já possível rebelião militar que derrubaria o governo, escândalos com a igreja católica etc.

Longe de ter censura, falou-se o que se quis sobre o tal programa, mas muito pouco se informou sobre ele. Faltava mesmo um pouco de didatismo de boa vontade explicando o que quer dizer cada coisinha ali escrita!

Contudo, na contra-mão do conhecimento e da sociedade civilizada e democrática (seja lá o que isso quer dizer hoje em dia...), transforma-se tudo em obscurantismo. Há o medo do vermelho, do homem barbudo e da ditadura, que foi de direita!

Mas, o que fazer com o desejo de voltar a tempos românticos, quando tínhamos um inimigo bem definido e podíamos gritar entusiasmados pelas Diretas! A Folha de S. Paulo, em 17 de fevereiro de 2009, até a chamou de “ditabranda”!

O que se percebe é que o dom da tão querida e comemorada liberdade foi assumido por pessoas um tanto imaturas, que, depois de tanto lutar, disseram: “E o que a gente faz agora?” “Ah! Vamo falá de futebol!”

Chegando ao nosso objeto, a canção do Só Pra Contrariar, nesse contexto específico, não só aparece como bastante adequada como recebe ainda um tempero especial do nome do grupo!

O assunto iria longe. Por sorte, acho que não fui o primeiro a notar isso.


Quem quiser olhar o PNDH-3, clique aqui e se surpreenda com uma quantidade menor de escândalos e algumas medidas que parecem bastante necessárias.


Esse é outro texto da coluna “ideias menos modestas”, que pretende ser uma área de polêmicas sobre o uso da linguagem em nosso cotidiano. Alvos principais: mídia, publicidade, discurso escolar, auto-ajuda, motivação empresarial e qualquer outra forma de manifestação que se configure como um bloco fechado de ideias.

2 comentários:

Nicole C. disse...

bem interessante as ideias ditas por aqui.

Unknown disse...

Muito obrigado!